10.20.2017

CORAÇÃO BATENDO





 Eu poderia ouvir seu coração batendo. Eu poderia ouvir nossos ruídos embriagados de amor. Ela chegou tão trêmula e molhada da chuva fininha. Eu a abracei e dividi sem reservas todo o meu calor. Eu não perguntei nada, apenas sequei seus cabelos e sem perceber inteiramente a beijei. Seu corpo molhado junto ao meu labareda. Sua voz suave e meu silêncio escondendo segredos que depressa revelei.
Eu poderia ouvir seu coração batendo. Eu poderia ver com tristeza o brilho incerto do seu olhar. Ela se despiu tão lenta. Era um ritual e eu não queria atrapalhar. Eu a beijei com todo desejo que havia adormecido em mim. Meu corpo todo despertou. Era dia, eu sei, mas eu a queria inteira e plena em mim. Era dia, eu sei, mas não há momento certo para o amor.
Eu poderia ouvir seu coração batendo. Eu poderia sentir suas mãos percorrendo incertas todo o meu corpo-desejo. Ela toda em mim e eu todo nela e por ela. Cada pensamento, cada murmurar, cada sorriso bobo, cada beijo. Era um sonho, talvez. Mas, se era eu nem louco queria despertar.
Eu poderia ouvir seu coração batendo. Eu poderia ver que ela sempre esteve esperando e agora decidida vinha ao meu encontro. Palavras eram nada para expressar o que fizemos e como destruímos aqueles lençóis e aquela arrumação pálida do meu quarto. Era domingo e dia santo. Santificadamente, ficamos ali colados um no outro. Ela respirando em meu peito e eu prendendo o ar. Poderia morrer naquele instante. Nada mais era como antes. Ela era tudo e aquele instante um nada. Mas ficamos assim até o chegar da madrugada. A fome não vinha, o desejo se repetia. Já não era mais dia e o breu tomou conta de nós. Era noite, eu sei, porém estávamos secretamente a sós. Eu nunca tive sorte com mulheres. Elas fuga ao longe sempre se iam de mim. Eu ficava aqui. Lágrimas verti. Consolos mil tentei. Era domingo santo e eu me apaixonei.
Eu poderia ouvir meu coração batendo. Eu poderia sentir a ereção voltando e ela sorrindo plena toda para mim. Iniciaríamos nosso encontro eterno, mas.
De repente, eu não conseguia ouvir seu coração batendo. A vida corria de nós e eu menino não conseguia segurá-la aqui. Foi despedida, eu sei. Sequer me espanto. Nunca tive sortes de amar imensidão. Eu não conseguia ouvir seu coração batendo nem, portanto, sentia vontade de ouvir o meu também.

                                                                                                                  Luciana Braga
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