10.05.2017
Sonhei que eu estava em um universo
paralelo. As pessoas me olhavam com olhos de interrogação. Eu
caminhava e não chegava a lugar algum. Tudo era luz e de repente
surgia um breu. O preto mais preto que alguém criou. Não sei se
havia lugar para o Deus dos homens. Aquele lugar existia em uma
fresta da janela do mundo. Mas entre tantos seres estranhamente
iguais a mim e ao mesmo tempo singulares, houve um que captou meu
olhar.
Ele ouvia uma música que não emitia
som. Ele era. As pessoas dançavam ao seu redor ou será que o
adoravam? Ele não se movia. Ele apenas existia. Ele era a paz e a
agonia. Eu me aproximei.
Tive medo que ele me repelisse com um
grito ou um empurrão. Tive medo que ele se desmanchasse no ar. Tive
medo de acordar. Ele sorriu.
Seu sorriso era a pureza dos dentes
que nunca haviam tocado em alimento algum. A serenidade pairava em
seu rosto. Então, eu me aproximei mais. Cheguei mais perto do que
fui capaz. Encostei em seu braço e estremeci.
Ele não parecia dominar língua
humana alguma. Ele apenas sorria e seu sorria depositava
constrangimento pleno em mim. Aquele minuto parecia não chegar ao
fim. Queria falar muito, mas não conseguia chamar as palavras. A
linguagem me escapava.
De nervoso, sorri de volta e entendi.
Ele não me dizimaria como fizeram meus antepassados. Criei coragem e
falei ao pé do seu ouvido algo curto, algo breve, algo sem sentido.
Ele sorriu em retribuição e braços
estranhos me puxavam para longe dele. Eu não queria ir. Queria era
ficar eternamente presa naquele sorriso.
Jovem dos cabelos pretos e da pele cor
de leite, porque não emitiu palavra?
Braços me afastavam e eu sabia que ia
morrer. Olhava para trás e não me preocupava se tudo virasse pedra
a minha volta. A felicidade nunca havia batido na minha porta.
Ele sorria e eu queria ficar ali
sorrindo também. Moço cor de leite me conta o segredo que você
tem.
Diz para mim como hipnotizou meus
sentidos a ponto de eu não me importar com estranhos amarrando meu
corpo em um poste.
Jovem misterioso, eu me lembro agora o
que disse. Tenho sorte.
- Pode ser um sonho e se for não
quero perder a chance de dizer o quanto tu és bonito.
Foi isso ou inventei agora para cobrir
o vazio que as palavras sempre deixam? Não sei.
Só sei que todos gritaram de júbilo
enquanto meu corpo queimava. Eu não emitia som. Estava parada e
amarrada olhando para ti ao longe. Tu não contemplavas mais o
firmamento. Teu olhar era meu naquele momento. Eu ardia em chamas e
só tinha um pensamento:
- jovem dos cabelos negros e longos,
por que não me disse seu nome?
Luciana Braga