8.11.2013
Você não quis ver meu rosto nem
pegar a minha mão. Você me deixou sozinha sentindo o frio da solidão. Você não
me colocou no colo nem se emocionou com a minha primeira palavra. Você não me enrolou
quando eu senti frio durante a madrugada.
Eu tenho um nome que parece com o
seu. A minha fisionomia também denuncia a sua paternidade, mas se eu disser que
tive um pai, juro, não estarei dizendo a verdade. Porque você me abandonou por
medo. Você não ouviu os meus segredos. Você não me ensinou a andar de bicicleta
e agora, diga-me qual é esse amor que não me completa?
Diga-me como é se emocionar com
dias como esse. Diga-me o que você fez para parecer especial. Diga-me o que é o
amor afinal. Explica-me como foi saber gerar uma vida que você nunca se
importou. Explica-me qual a emoção de ver um ser crescendo e recusar ver seu
rosto. Explica-me qual foi esse desgosto que eu o causei.
“Pai”, você não merece esse nome,
mesmo eu não sabendo o significado dessa palavra. “Pai”, quando eu era criança
eu chorava sozinha enquanto as outras crianças faziam cartões para os pais.
Você nunca existiu, sabia? Mas, foi o culpado por muita agonia. Você foi meu
sonho e pesadelo. Eu o amei quando não sabia o quão fraco você tinha sido. Eu o
odiei porque você me abandonou por eu não ser um homem. “Pai”, a gente não
escolhe o que vai ser. Eu também não escolhi ser uma parte de você.
Agora, enquanto as famílias se reúnem
e abraçam os patriarcas. Eu imagino como seria ter tido um pai. Eu fico
imaginando como seria ter tido alguém para me ensinar a cavalgar. Alguém para
se zangar quando eu começasse a namorar. Alguém para se preocupar com as minhas
saídas. Alguém para me amar por toda a vida.
Mas, você não me deu nenhuma
escolha, “Pai”. E eu queria ter visto o seu rosto pelo menos uma vez. É muito
difícil ser parecida com alguém que você nunca viu. Mas, agora já não resta
mais nada em mim. Eu sou a culpada por
um crime que eu nunca cometi. Eu não sou culpada, “Pai”, eu sou a vítima dos seus
erros! Entenda isso definitivamente! Entenda o que se passa em minha mente...
Porque meu coração já não possui
espaço para ódio, raiva nem saudade. Porque não posso sentir falta daquilo que
eu nunca tive. E eu nunca tive o seu amor, “Pai”. Incrível que digo que não
sinto nada por você. Mas, você é uma ferida que abre anualmente. Você é aquele
que elimina o meu sorriso.
“Pai“... A minha mãe o amou
tanto, porque você escolheu partir? Porque nos abandonaste, “Pai”? Porque o meu
sorriso conquista a todos, mas nunca o conquistou? Por que você nunca me deu
amor? Porque você nunca me deu amor?
Nunca irei compreender as suas decisões.
Jamais o perdoarei completamente pela ferida aberta que não sara nunca. Eu
estou chorando agora, “Pai”, mas você nunca se importou, você nunca me deu
amor, nunca me deu amor...
Luciana Braga