7.01.2019
Quando nossos olhos se
cruzam, um precipício se abre entre nós. Pergunto qual o teu maior desejo e você
foge por medo de cair na minha imensidão. Não é armadilha, mas eu nem sei o que
é. Desculpa se eu perdi a fé e já não sonho com a doce e contagiante
felicidade. É que eu já senti demais, sofri demais e agora estou sangrando aos
poucos. Diga-me que você sabe como é que se faz o antídoto para a dor da existência.
Explica-me qual a maior consequência de arriscar tudo o que temos por um
desejo. Mostra-me o que eu não vejo. Leva-me para onde eu não sei. Diz palavras
que eu desconheço. Segura-me ou eu desfaleço e acordo sem saber quem eu sou.
Quando nossas mãos se
tocam, minha pressão vira polo-norte. Eu não tenho a sorte de fingir ser outra
persona. Estou fadada a caminhar como aprendi, a me vestir como posso, a beijar
quem eu não escolhi. Amor não se escolhe, sabia? Ele vem e nos arrebata. Ele nos
fere e nos mata, ou nos deixa com a agonia da insatisfação. Amor é filho da
ingratidão. Dizem que ele tudo suporta, mas isso é besteira. Ele bate a porta
na nossa cara, ele é dor verdadeira. Ele rouba tudo o que temos de melhor. Não sei
porque nos acostumamos a tratá-lo como ovelhinha inocente. Amor é duro, cruel,
amor acaba com a gente.
Quando nosso corpo se
enlaça, eu sei que não poderei suportar. Eu fujo para não me ligar. Eu me
escondo porque só sei ser sozinha. Eu tenho medo de precisar de ti para sentir.
Eu sou eu e eu sonho que me basto. A realidade difere do que penso, mas eu
escolho a fantasia. Lá eu me enlaço com a rebeldia. Lá eu sou ele, ela, eu só
nós. Lá não há limites para gritar. Eu posso me virar sem medo de escorregar. É
só em sonho que eu posso te amar. No mundo real não há espaço para o
improvável. Não há espaço para o politicamente incorreto, para o indigesto,
para o incesto, para o complexo universo do que nem sei explicar. Só sei que na
ciberrealidade existe uma diminuição do que me julga e eu posso ser quem sou
sem julgamentos, sem pensamentos, sem complementos. Nada lá me falta. Tudo é
mais bonito por isso quero fechar os olhos e tocar o infinito. Apenas deixe-me
ir, deixe-me ou venha comigo.
Luciana Braga