11.11.2017

A QUARTA HISTÓRIA




Depois da meia-noite, as histórias podem não parecer reais, mas o que é realidade afinal? Deus inventou o mundo, mas o homem inventou Deus, ou foi o contrário? O que se perdeu? Onde eu estava quando as águas invadiram o universo? Por que quando olho o céu imagino meu mundo inteiro pelo averso? Cada estrela brilha e eu continuo me sentindo sozinha. A alegria existe, mas a tristeza é de origem minha.
Depois da meia-noite, os monstros saem dos cemitérios e quebram as muralhas da minha consciência. Às vezes, perco a paciência e quero que tudo aconteça como planejei. Às vezes, fecho os olhos e imagino o mundo do jeito que sempre sonhei. Vejo tanta gentileza escondendo tanto pavor. Uma criança correndo ao longe, fugindo, gritando, mas ninguém ouve o seu clamor.
Depois da meia-noite, os casais apaixonados se amam como se tudo fosse chegar ao fim. O que era dois, torna-se um; verdade ou mentira, em meus sonhos sempre foi assim. Ouço a música que sai de uma caixinha antiga e saudosista. Ouço o seu choro e meus olhos perdem seu corpo de vista. Lembro-me dos passos, do riso e do som da sua voz. A morte afastou o pouco que havia entre nós, mas ela não é capaz de destruir minha lembrança.
Depois da meia-noite, abro a janela e me encho de esperança. Sei que tudo vai melhorar enquanto a chuva cai fininha feito um milagre do céu. Se é mentira ou se é verdade, nesse momento, não vejo horror perante os teus olhos lacrimosos que dizem que tudo vai ficar bem. Vejo seu rosto e sinto todo o poder que você tem. Sei que você não enxerga nada, parece que tudo é mesmo fruto da minha mente. Abro os olhos, no entanto, e sinto teu toque arrepiar meu corpo de repente.
Depois da meia-noite, só sinto frio, embora sempre seja a dona do calor. Encho-me de solidão, mas você me chama, enche meu quarto e meu rosto reclama. Ilumina a noite e eu sei que me ama. A quarta história é de uma menina incapaz de dizer não. Louca para correr sozinha em meio a escuridão. De seu corpo brotam asas e ela domina o céu com seu canto. Nunca entenderei, mas é com isso que sonho tanto. Ela não tem nome nem passado, não sente dor, nem tormento, ela voa de noite e de dia, sempre sendo guiada pelo vento.


Luciana Braga
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