Ser mulher em tempos de guerra,
em tempos de preconceito, em tempos de silêncio, em tempos de injustiça, é uma
luta diária. Ser mulher é um grito silencioso no meio da estrada. Ser mulher é temer o que dirão e chorando
preferir não dizer nada. Ser mulher é se
encolher sozinha no meio da madrugada.
Entender um ser igual que o julga
como uma qualquer. Compreender uma humanidade perdida que me faz perder a fé.
Compreender os desafios diários é a luta da mulher.
Ser julgada pela roupa que está
vestindo. Ter que ocultar o tempo inteiro o que está sentindo. Sorrir para que
não receba muitos olhares de pena. Gritar quando sentir que no meio de tantos
lobos, ainda é uma menina, uma criança que faz parte da cena.
Clamar que não se aproxime. Pedir
que a deixe em paz. Chorar enquanto suas roupas são rasgadas. Sentir tudo e não
ter forças que a torne capaz.
Ser mulher é tarefa árdua. Ser
mulher é mais difícil que viver. Ser mulher em meio a tempestade. Ser mulher e
mesmo assim não querer morrer.
Se um grito rompe o infinito. Se
seu sorriso é o mais bonito. Se seu corpo é sensual. Nada explica o ato insano
e imoral.
Ser mulher e sobreviver em
pedaços. Ser mulher mesmo quando destruíram todos os laços. Ser mulher é
insistir. É lutar para que saia sem a invadir.
No meio de tantas críticas,
tantos dedos acusadores. Ser mulher, meus senhores, é tão difícil quanto
nascer. Ser mulher é sobreviver e lutar para que isso tudo mude. Ser mulher é
clamar para que Deus ajude. Ser mulher é pedir um pouco de paz. “Deixe-me, meu
corpo não aguenta mais!”
Se um lobo apavora e é capaz de
destruir uma alma inocente. Uma matilha é a maior atrocidade. Enquanto eles
gargalham, ela grita. Enquanto ela chora; ele se excita. Se ela luta; a
situação complica. Não dá pra fugir; o jeito é fechar os olhos e se deixar levar.
Torcer para que a morte venha antes que tudo termine. Torcer para que as drogas
anestesiem seu corpo e sua alma. Entorpecer não resolve, mas acalma.
Ser mulher é ter que trancar as
portas do quarto com medo até do seu parente. Ser mulher é ser saudável em um
mundo doente. É se encher de ursos de pelúcia com medo da infância a abandonar.
Ser mulher é não ter medo de chorar.
E depois que eles saem e a deixam
sangrando no meio do nada. A morte não veio e ao longe, ela ainda houve algumas
gargalhadas. Está suja, maltrapilha, cansada e atordoada. Ao longe ela ainda
ouve os lobos sem poder dizer nada.
Ao chegar em casa nos braços de
um estranho, a vergonha toma conta da sua mente. Ninguém poderá entender o que
ela sente. Mesmo assim, todos a apontarão como uma mera meretriz. Todos esquecerão
sua história e a acusarão. Ninguém lembrará que ela ainda tem um coração. Ou será
que ele também foi violado? Só vejo e sinto sangue por todo lado. As imagens
confundem a minha mente. O choro vem sem cessar de repente.
Ser mulher em tempos de estupro é
aterrorizante, principalmente por saber que isso não é de hoje, é de muito
antes. Ser mulher é ser julgada por simplesmente ter nascido. Parece que não
adianta sair na rua e lutar. Parece que todos esqueceram o significado do que é
amar.
Ser mulher é abrir os olhos e
mostrar que não quer ser alguém superior; é apenas querer respeito, direitos,
amor. Ser mulher é dizer NÃO e ter sua voz ouvida. Ser mulher não é viver com
tanta ferida aberta. Ser mulher é sentir que sua luta ainda é a CERTA. Ser mulher
é se sentir plena ao invés de incompleta. É mandar no seu corpo e na sua mente.
Só quem é mulher e sofre sabe o que uma mulher sente.
Luciana Braga