Ele disse que odeia minhas
ironias, meu sorriso sarcástico e meu modo de ver o mundo. Disse que não há
nada de profundo em escrever sem publicar. Disse que eu nunca aprendi o que é
amar.
Ele disse que eu sou fria e não
sei retribuir carinho. Disse que eu era uma trilha errada no meio do seu
caminho. Disse que sou viciada em filmes medíocres de amor. Disse que sinto
muito calor e isso irrita quando está fazendo frio.
Ele disse que odeia nunca ter me
dado um só arrepio. Disse que odeia o quanto eu me perco em meu trabalho. Ele
odeia porque eu nunca me calo. Odeia essa minha mania de estar sempre com a
razão.
Odeia eu ter aparecido e
confundido a sua direção. Ele disse que odeia o meu sorriso sempre presente nas
fotografias que tiramos. Odeia porque nunca nos amamos como ele gostaria que
tivesse acontecido.
Ele disse que odeia nunca ter
encontrado em mim um abrigo para as suas arrogâncias. Odeia eu nunca ter dado
esperança de mudar. Odeia eu nunca me entregar e odeia precisar estar perto de
mim para se sentir feliz.
Ele odeia porque um dia me quis.
Odeia buscar um brilho especial em meus olhos e nunca encontrar. Odeia eu nunca
parar em público para lhe beijar.
Ele me odeia tanto assim que chega
a odiar até o que ainda há de melhor em mim. O problema é que eu não me importo
com a opinião dele. Eu não ligo, se ele não ligar. Eu não digo que amo, se eu
não amar. Eu não desisto de lutar. Eu não me humilho nem se for minha última
chance de conseguir. Eu não mudo por ninguém, porque sei que sempre seremos
odiados por alguém. Sempre seremos a pessoa errada para alguém. Mas, um dia, o
tipo certo irá chegar e parecerá tão errado para todos que irá nos assustar.
Contudo, se não tivermos medo de nos entregar, o ódio passa e aprendemos o que
é amar.
Luciana Braga
