Se as profundezas do oceano
fossem tão complexas quanto as profundezas do meu ser, não haveria um peixe
sequer que se aventurasse a nadar nessas águas. Não há e jamais haverá criatura
nesse planeta, repleto de hipocrisia e falta de amor, que seja capaz de
desvendar os mistérios do meu interior. Eu mesma por diversas vezes já tentei
me entender e me perdi em labirintos formados por lembranças desconexas.
Os outros dizem, portanto, que
sou complexa, que sou difícil, que sou indigesta, que sou sombra ou escuridão;
e eles erram pateticamente tentando me desvendar, pois eu sou o indecifrável, e
o que eu sou, nem eu mesma sei. O que me importa é que eu não seja hipocrisia,
mentira, ódio, covardia; inveja, ganância ou falta de amor. Contudo, querer
jamais implica em alcançar.
Portanto, enquanto eu não alcanço
o que eu quero, enquanto eu não sinto o que eu sonho, enquanto eu não veja o
que eu espero, enquanto eu não ame como sou capaz, eu imploro a todos que me
deixem em paz e parem de tentar me decifrar, pois eu mesma já desisti.
Luciana Braga
