Eu sou assim: rodeada de pessoas
e só. Não importa o que digam, eu sei que Deus sempre está junto a mim, mas é
que, às vezes, uma presença imperfeita também torna o nosso dia mais perfeito.
A solidão não é usar preto todos os dias, não é gostar de ir a praia a noite,
não é chorar pelos cantos, não é chorar sem motivo algum, não é ficar calada
enquanto todos falam.
Eu faço tudo isso, mas não é por isso
que me sinto só. Sinto-me só quando olho ao redor e vejo tanta gente, e tão
pouca "gente", tanto humano, e tão pouco de "humano" nas
pessoas. Vejo tanto discurso, e ouço mínimas palavras que se aproveitam.
Enxergo tantos abismos e às vezes me jogo e eis que me sinto só.
O abismo da solidão é quando não
encontramos ninguém capaz de compreender o que sentimos, de dialogar de maneira
construtiva, não falar por falar, pois para isso eu compro um papagaio. Busco
alguém capaz de colocar a cabeça pra pensar, capaz de emitir um discurso que
não é uma mera repetição de discursos. Busco uma pessoa capaz de me ouvir sem
procurar me entender, pois sou confusa até para mim mesma.
Busco alguém capaz de preencher
esse vazio que aumenta a cada dia e que dói não sei como e cresce não sei por
quê. Busco alguém que não me julgue, que não me prenda, que não me compreenda,
mas que tente amar-me como eu sou.
Haverá alguém capaz de amar sem
buscar entender a pessoa amada? Haverá alguém capaz de ouvir sem julgar? Capaz
de dar sem esperar nada em troca? Capaz de sentir a intensidade de um abraço?
Capaz de perceber o meu embaraço quando eu digo que não posso ir além? Capaz de
entender a força que Deus tem? Capaz de beijar como se fosse o último beijo?
Capaz de escrever por necessidade e não por vaidade? Capaz de buscar falar
sempre a verdade??? Haverá? Haverá? Haverá, meu Deus, alguém assim?? Ou eu
busco o impossível entre os homens?
Luciana Braga
