Eu
jurava que ela não viria, mas ela veio. Não me olhou nos olhos. Ficou perdida
entre as cores das minhas artes, folheando livros e escondendo sorrisos.
Estávamos sendo observadas. Saímos juntas como se soubéssemos para aonde ir. E
eu jurava que a despedida viria breve e sem muitos abraços. Éramos duas
completas desconhecidas.
Você
reparou que eu não havia comido, enxergou meus olhos cansados, diminuiu seus
passos para alcançar os meus. Levou minha mala e reescreveu meu dia. Escolheu
as palavras e criou coragem para me encarar por trás das tuas lentes
multicoloridas.
Conversamos
sobre tudo o que a mente trazia para a distância desses corpos tão parecidos e
tão singulares em suas diferenças. Adiamos a despedida. Percorremos horas em
minutos. Até que nossos olhos se cruzaram por trás das lentes.
E
teus olhos viram meus olhos e procuraram a minha boca. Ou foi o contrário? O
encontro foi um despetalar de flor com uma confusão de perfumes, texturas,
gostos e saudades.
Do
desejo que se fez carne e saboreou todas as palavras que foram lidas com a intensidade
de quem consome cada verso de um poema antigo. Depois conheci teus dons. E tuas
mãos me encheram de um carinho lento e urgente. Adivinhei suspiros, arranhei
tuas costas, beijei tua boca e arranquei sorrisos e desejos.
Ao
final, éramos um entrelaçar antigo de uma vontade nascida no instante-já. E
você prometeu não se apaixonar, mesmo que teu açúcar estivesse caramelizando o
doce da minha voz e os silêncios tivessem diminuído e cedido espaço para o que
há de vir e eu ainda não pensei.
