4.01.2018
Foi como uma caminhada eterna em um túnel infinito e mesmo assim eu
arrisquei. Seus olhos cor de terra tragaram os meus assim que os
encontrei. Suas mãos inquietas, seu olhar perdido de cansaço ou
dúvida. No fundo eu sabia que uma lua imensa brilhava no céu, por
isso prossegui. Sempre acreditei que as noites de lua cheia me
transformavam e foi assim. Eu era certeza e calmaria até te
encontrar. Teu abraço curto. Teu olhar certo. Tua voz antiga. Tanta
fadiga. Tanto tempo. Tanto leite derramado finalmente substituído.
Pergunto-me o que aconteceria se eu não tivesse ido.
Então me perco em mil divagações: Se não houvesse a necessidade.
Se tudo não fosse realidade. Se eu não tivesse ouvido sua voz doce
em pleno escuro. Se seus dedos não fossem frios demais. Se minha
sensatez não me proibisse de agir conforme meus desejos. Se eu
tivesse cedido aos beijos. Se prolongasse os instantes em que minhas
mãos foram aos teus lábios. Se eu não tivesse que entender. Se
você sustentasse o olhar enquanto eu encarava você. Se não
houvesse o tudo que nos conduziu ao nada. Se eu fechasse os olhos e
finalmente sentisse seus lábios juntos aos meus. Se tudo não se
perdesse naquele breu de respostas incompletas. Se eu fosse mais
humana que poeta.
Ahhh divagações até onde me levarão, já estou farta!? Tanta
espera me deixou sem ação e sem palavras. Grito e meu grito rompe o
céu, mas será que ele ainda me ouve? Sou dúvidas e certezas. Nem
sei quem sou. Quando cheguei, ele já estava aqui. Dancei, dançamos,
mas não foi real. Tudo se comporta no final. Tudo chega ao fim, mas
esse túnel não. Tudo tem um rumo ou uma direção. Nós somos um ou
nada, tudo, multidão. Eu sou a palavra. Tu és o gesto, a luz, o
pensamento e eu a razão.
Luciana Braga