12.26.2016

PLENITUDE


Estava tudo vazio quando eu cheguei. Teus olhos brilhavam do alto na expectativa de dividir sua canção. A música embriagou meu corpo, minha mente e meu coração. Quis dançar sem receio dos olhos que me espreitavam, mas meu corpo desobediente se prendia às batidas do rock. Quando o vi de perto foi aquele choque. Transformei-me em uma idiota que só sabe falar o óbvio e guardei o inusitado dentro de mim.
Afastei-me, mesmo querendo ficar. Sorri, mesmo querendo chorar. Fingi que não notava os passos teus. Mas, no fundo, eu sabia que eles também eram os meus...
Estava tudo escuro fora e dentro de mim. A música não fazia sentido sem você ali. Mesmo assim, ensaiei rodopios ao fechar os olhos, porém o corpo continuava parado. Imaginei que você viria para perto, para o lado, e abriria um sorriso que destravaria o meu. Imaginei tanto que de repente aconteceu.
Disse sim, mesmo querendo parecer difícil. Caminhei imaginando um precipício. Fingi parecer sociável, mas todos sabem que por dentro sou só solidão.
O vinho inebriava meus pensamentos e a leveza me convidava a sorrir. Tuas palavras se misturaram às minhas e por um instante eu fui feliz. Revelei alguns pensamentos e me interessei pelos teus. Desejei prolongar aquele momento para o infinito das coisas incertas. Desejei que todas as tuas portas tivessem abertas. Desejei beijar teus lábios ali mesmo sem pudor. Desejei sentir teus cabelos embaraçados e confusos juntos dos meus. Desejei sentir teu corpo quente a me envolver. Desejei vivenciar instantes raros e intensos de prazer.
De repente era apenas você e eu. O espaço era pequeno, o desejo grande. Tuas mãos percorriam meu corpo, enquanto eu tentava entender. Fechei os olhos e me deixei levar. Fechei os olhos e começamos a nos beijar. O tempo era curto e eu nem consegui prestar atenção à letra da música que nos embalava. Eu só sei que a gente se amava ou se entregava um ao outro sem pensar no amanhã.
A vida tem desses momentos insanos que não possuem explicação. Eu ainda sinto os beijos que você deu na minha mão.  Lembro que na hora não achei que aquilo tudo estivesse certo. Sei que pensei em voltar atrás...
Mas eu me sinto tão sozinha. É tão raro encontrar olhos tão bonitos a me envolver. É tão raro na minha vida sentir que os minutos estão sendo preenchidos com prazer. Eu sempre ando em linha reta e acabo perdendo a beleza dos bosques. Às vezes, é bom desviar o caminho e sentir um toque singular.
E eu estava tão perdida que fiz de tudo para encontrar alguém que mal conhecia. Eu estava me sentindo tão vazia que me enchi de alegria na simples menção de preencher com um pouco de afeto teu.
Vivo sorrindo e todos pensam que sou feliz, mas estou tão perto da felicidade quando o cego de enxergar a luz. Só sei que quando você sentou naquele banco e quis saber da minha vida, foi como se de repente alguém se importasse. Você também estava perdido e por isso se agarrava a mim também. Eu me agarrei a você porque não tinha mais ninguém. Agarrei-me porque você trouxe o calor da madrugada. Agarrei-me porque você disse tudo mesmo sem dizer quase nada. Agarrei-me porque tua dor era parecida com a minha.
 Você também me beijava com desejo de esquecer. Você também estava em busca de um momento raro de prazer. Talvez eu não tenha sido muito. Talvez nem tenha sido especial.
Talvez tudo não passou de um instante, mas foi eterno enquanto eu fitei teu rosto adormecido. Foi eterno pelo simples prazer de tê-lo conhecido. Foi eterno porque tua música me fez flutuar. Eterno porque, diversas vezes, eu esqueço que sou humana e que preciso amar.
Eterno porque a luz que emanou dos teus cabelos iluminou algo em mim e você nem percebeu. Eterno porque você quis dividir comigo um passado que é só teu. Eterno porque o pouco se transforma em muito quando não temos nada.
                    
                                                                                                                             Luciana Braga 
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