2.15.2014

CHUVA




Me desperto antes do relógio. Tento inutilmente voltar a dormir. A cama, os lençóis, o travesseiro. Tudo é vasto demais para mim. Levanto-me resignadamente e vou até a janela. Cai uma chuva fininha lá fora. Enquanto dentro de mim, a chuva flui feito tormenta. Mas, o homem é forte; ainda que a dor seja grande demais, todos sempre dizem que ele é forte e que aguenta.
Mas, eu não quero aguentar. Eu quero rebentar a fibra. Quero sair porta afora. Quero deixar que a chuva caia fora e dentro de mim.
Contudo, eu não quero me arriscar. O medo me aprisiona dentro de um quarto aparentemente confortável. O burguês é sempre confortável e pateticamente conformado. Eu não sou burguês. Quero a rebelião.
Lá fora, a chuva aumenta e os galhos das árvores se agitam. Dentro de mim quase nada se move. Eu sou só solidão.
Ainda que um homem bom esteja dormindo na minha cama. Eu sou só. Ainda que ele, às vezes, envolva-me em seus braços; eu sou sozinha. E sinto um nó na garganta por causa de tudo àquilo que eu nunca falei.
O homem é alto, forte e calmo. Eu sou pequenina, aparentemente frágil e violentamente agitada. Contudo, o meu agito é mais um desejo que um ato. Ele é bom, mas não passa de um ingrato que não soube me dar amor.
Lá fora, a chuva cai sem medo. O coração de uma mulher é um baú repleto de muitos segredos. Os meus desejos são passos que eu nunca dei.
Lá fora, a chuva começa a diminuir e voltar a ser fininha. Aqui dentro, eu só anseio ser completamente minha, pois cansei de me doar.
O meu coração é um oceano desabitado. A solidão do meu quarto é maior dentro de mim. Melhor voltar a dormir e sonhar, pois o sonho é a única forma de eu entregar o amor que ele pediu. Em sonho, eu me permito correr sem medo. Em sonho, eu revelo todos os meus segredos e confesso que você é a tormenta que eu almejo, pois estou cansada de chover devagarinho.

Luciana Braga
Compartilhe: