Uma menina sentada no sofá da
sala lendo um livro. Uma menina limpando as lágrimas constantemente enquanto lê.
Uma menina, uma menina, uma mulher. Eu.
Custo acreditar que é apenas
ficção! Mas, existiu realmente todo o pavor, todas as mortes, os sofrimentos,
os campos de concentração e o poder das palavras! Existiu! Ninguém irá me fazer
acreditar em algo diferente disso.
Os seres humanos são prepotentes,
arrogantes, mesquinhos e hipócritas. Eles pensam que são tanto, quando não são
capazes de compreender os próprios medos. Eles não são capazes de detectar o
verdadeiro inimigo no meio da multidão. E tudo por quê? Porque o nosso
verdadeiro inimigo está dentro da gente. Ele reside em nosso corpo, em nossa
alma, em nosso espírito e coração.
Contudo, gosto de acreditar que
no meio dessa lama de gente inútil, há uma menina de cabelos da cor do sol. Há
uma menina que rouba livros e não sonhos. Há uma menina que rouba frutos para
matar a fome, ao invés de roubar dos pobres para alimentar a ganância humana.
Gosto de acreditar que existiu
uma menina que negava beijos, mas nunca negava um pedaço de pão. Uma menina que
não gostava de banhos, mas gostava de um judeu. Uma menina que amava um pai
mais que tudo na vida. Uma menina que viajava ao som de um acordeão. Uma
menina, uma esperança, uma razão.
A vida não me apresentou muitos
amores em forma de homens, mas me presenteia constantemente com palavras,
histórias, sonhos e fantasia. A vida me presenteia com muito mais do que eu
esperei que ganharia um dia. A vida me presenteia com os sorrisos que eu não
libertei, com os beijos que eu não ganhei, com os abraços que eu não pedi. A
vida me presenteia com as histórias que eu nunca vivi.
Uma menina que roubava livros e
um rapaz com cabelo de pena. É tudo tão fugidio, tudo tão pleno e infinito em
uma história perfeita, apesar de pequena. Um livro. Uma menina. Uma mulher. Eu
e minhas lágrimas libertas a passearem em meu rosto aflito. Lágrimas a
percorrerem o caminho mais bonito e morrerem nos lábios que nunca sabem o que
dizer.
Lágrimas que eu derramei ao
começar a amar você. Lágrimas que eu tanto quis esquecer. Lágrimas que ainda
queimam a minha face branca como a neve. Lágrimas que já pediram a Deus: “Por
favor, me leve...”.
Lágrimas... Lágrimas... Lágrimas
e uma menina sozinha em uma sala deserta. Lágrimas e um livro viajando no
pensamento. Lágrimas e um só lamento: “Porque eu demorei tanto para te
encontrar?”.
A vida não nos ensina por qual
estrada deveremos caminhar, mas a vida nos mostra algumas pistas bem discretas.
A vida é tão linda como a alma de um poeta.
Incrível é receber essa história
de vida através da morte que tanto nos assusta. Paradoxal é perceber que a
morte entende tanto de nós e ela continua sendo um ponto de interrogação.
Incrível saber que quando eu segurava aquele livro em minhas mãos... Imaginava
que você estava ao meu lado ouvindo a história.
Eu penso em você a cada instante,
a cada milésimo de hora. É duro reconhecer, mas seu sorriso não sai da minha
mente. E como uma menina que roubava livros, você roubou o meu coração. Como
uma menina que roubava livros, você me beijou enquanto eu dormia. Porque
demorou tanto? Porque não se declarou enquanto era dia? Porque demorou para me
fazer feliz, se sabia que eu sofria? Porque não me fez logo conhecê-lo quando
eu era apresentada à sensação infinita da dor? Porque as nossas histórias não
se transformam em uma só, se há amor?