Quando ele se aproximou daquele
rosto antigo. Mesmo sem vê-la, pôde sentir as batidas do seu coração. O amor
não acaba assim como a visão. E se é real, nada é capaz de impedir a sua permanência.
Ele não podia ver aquele rosto,
mas lembrava de cada traço. Lembrava-se dos cabelos lisos e soltos sempre a
esvoaçar. Lembrava-se da testa pequena e boa para beijar. Lembrava-se dos olhos
pequeninos e castanhos. Tudo nela ainda o fascinava com tamanha emoção.
Ele não a via, mas podia
imaginar. E ainda havia a lembrança daqueles lábios finos e molhados à espera
de um beijo. A lembrança daquele corpo pequeno de menina, enquanto a alma de
mulher permanecia ali dentro, imóvel à espera de um abraço.
Como ele poderia esquecer-se
daquela mão tão meiga e gentil que ainda tocava o seu rosto? Como esquecer
aquela que um dia disse: “Eu serei para sempre sua”. Como esquecer a primeira e
única mulher que ele vira completamente nua? Como esquecer-se de todas as
noites de amor e prazer?
Ela permanecia em silêncio
enquanto uma lágrima insistia em rolar pelo seu rosto. Ela permanecia em
silêncio, porque ainda não era capaz de entender. Ela permanecia em silêncio,
mas seu íntimo gritava: “querido, por que você?”.
Ela não se conformava pelo fato
de ele não ser mais capaz de ver o mundo. Ela achava que ele estava morando em
um abismo profundo. Ela achava que ele jamais seria feliz novamente. Ela
pensava muito enquanto ele sem pensar em nada a beijou.
E assim, ambos de olhos fechados...
Era como se ele ainda tivesse a sua visão. Assim, de olhos fechados, ele era
capaz de amá-la com mais intensidade que antes. Ele a via em seu pensamento.
Conhecia cada pedaço do corpo dessa mulher tão amada. E aos poucos conseguiu
arrancar dela um sorriso. Aos poucos, ela entendeu que ele poderia ser feliz na
escuridão. Aos poucos, ela entendeu que ainda era vivo o fogo da paixão. Aos
poucos, ela entendeu que ele ainda era o mesmo, apesar dessa diferença.
Aos poucos ela agradeceu por ele
estar ali juntinho dela. Aos poucos, eles se uniram em um único abraço. Aos
poucos, desaparecia qualquer embaraço. Aos poucos, eles faziam amor como uma
experiência única.
E finalmente, ela entendeu que
ele já não podia vê-la, mas a enxergava melhor que todos. Por que a gente não
sabe mesmo ver bem com os olhos. É necessário
aprender a ver com o coração. Mas, a vida ensina. O amor ensina. E aos poucos,
ambos aprenderam mais essa lição do amor.
Luciana Braga