5.01.2013

BANHO DE CHUVA






Acho que estou precisando de um banho de chuva. Mas, não um banho superficial e rápido. Eu preciso de um banho longo. Preciso deixar a água penetrar a minha alma. As pessoas pensam que é bobagem, mas a água consegue, sabia? A chuva afasta a tristeza da gente ou nos faz companhia, mas o certo é que ela consola ou faz viver. A chuva me faz lembrar você.
Nada é mais sublime do que aquela maravilhosa sensação de liberdade. Poder correr e sentir que os cabelos não irão se embaraçar, ou irão, mas você não quer se importar. A sensação é tão linda e plena que você não consegue pensar no depois. A chuva me faz lembrar nós dois.
Acho que estou precisando de um intenso banho de chuva como aquele que tomamos anos atrás. Eu não esperava... Você também não. Quando eu senti a primeira gota, não deu tempo de fugir... Eu também não queria. A gente não percebia que a roupa estava ficando colada, a minha maquiagem já havia saído do rosto, mas você ainda repetia que eu era a mais bela...
Acho que estou mesmo precisando de um doce banho de chuva como aquele que tomamos quando demos o nosso primeiro beijo. Os meus lábios estavam trêmulos e os seus também. Foi tudo tão rápido, incerto, mas depois nos acostumamos com a sensação e até repetimos inúmeras vezes. Eu queria ter a certeza que o seu beijo era realmente bom e descobri que era mais...
Acho que somente um banho de chuva conseguiria devolver a leveza ao meu ser. O tempo corrói a alma da gente. Com o tempo, algumas pessoas ficam diferentes, mas eu juro que ainda sou a mesma.
Somente a água me devolve as suas lembranças, sabia? Eu sinto falta dos nossos banhos de chuva. Nós nos resfriávamos juntos, mas valia tanto a pena.
Hoje não está chovendo e é triste porque choveu a semana inteira, mas eu não tinha tempo para reparar. Você brigaria comigo e me mandaria arranjar tempo para tomar um banho de chuva. Diria que a chuva restauraria as minhas forças, mas você não está mais aqui para me acompanhar.
Não consigo me molhar sozinha. O céu é imenso, a chuva transborda e inunda os meus pensamentos, mas sem você, o espetáculo perde o sentido, fica incompleto. Você é a chuva do meu deserto. Você era o meu futuro incerto.
Espere, posso ouvir de levinho. É chuva! Chuva! Chuva! Meu bem, está chovendo! Então porque você não se levanta desse caixão e vem tomar banho comigo?

Luciana Braga

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