Acho que estou precisando de um
banho de chuva. Mas, não um banho superficial e rápido. Eu preciso de um banho
longo. Preciso deixar a água penetrar a minha alma. As pessoas pensam que é
bobagem, mas a água consegue, sabia? A chuva afasta a tristeza da gente ou nos
faz companhia, mas o certo é que ela consola ou faz viver. A chuva me faz lembrar
você.
Nada é mais sublime do que aquela
maravilhosa sensação de liberdade. Poder correr e sentir que os cabelos não
irão se embaraçar, ou irão, mas você não quer se importar. A sensação é tão
linda e plena que você não consegue pensar no depois. A chuva me faz lembrar
nós dois.
Acho que estou precisando de um
intenso banho de chuva como aquele que tomamos anos atrás. Eu não esperava... Você
também não. Quando eu senti a primeira gota, não deu tempo de fugir... Eu também
não queria. A gente não percebia que a roupa estava ficando colada, a minha
maquiagem já havia saído do rosto, mas você ainda repetia que eu era a mais
bela...
Acho que estou mesmo precisando
de um doce banho de chuva como aquele que tomamos quando demos o nosso primeiro
beijo. Os meus lábios estavam trêmulos e os seus também. Foi tudo tão rápido,
incerto, mas depois nos acostumamos com a sensação e até repetimos inúmeras
vezes. Eu queria ter a certeza que o seu beijo era realmente bom e descobri que
era mais...
Acho que somente um banho de
chuva conseguiria devolver a leveza ao meu ser. O tempo corrói a alma da gente.
Com o tempo, algumas pessoas ficam diferentes, mas eu juro que ainda sou a
mesma.
Somente a água me devolve as suas
lembranças, sabia? Eu sinto falta dos nossos banhos de chuva. Nós nos resfriávamos
juntos, mas valia tanto a pena.
Hoje não está chovendo e é triste
porque choveu a semana inteira, mas eu não tinha tempo para reparar. Você
brigaria comigo e me mandaria arranjar tempo para tomar um banho de chuva.
Diria que a chuva restauraria as minhas forças, mas você não está mais aqui
para me acompanhar.
Não consigo me molhar sozinha. O
céu é imenso, a chuva transborda e inunda os meus pensamentos, mas sem você, o
espetáculo perde o sentido, fica incompleto. Você é a chuva do meu deserto.
Você era o meu futuro incerto.
Espere, posso ouvir de levinho. É
chuva! Chuva! Chuva! Meu bem, está chovendo! Então porque você não se levanta
desse caixão e vem tomar banho comigo?
Luciana Braga