3.11.2019

DIGA-ME, GAROTO







Diga-me, garoto, você é realmente feliz dentro do laboratório que você mesmo criou? Os animais que te cercam ainda substituem as pessoas? Como é que você passa tanto tempo sem ver o sol? Diga-me como você consegue prender a respiração e não morrer? Existe algum mistério dentro de você? Existe alguma lógica nessa sua louca ciência? Eu já tentei entender, mas sempre volto para a origem de tudo.
Diga-me, garoto, você ainda é capaz de lembrar a primeira vez que nos vimos? Os pesadelos ainda atormentam as tuas noites e te deixam em claro escrevendo mensagens que nunca terá coragem de enviar? Ainda sobra tempo para você gritar com o mundo, consigo, com tudo o que ainda te atormenta? Ainda existe aquela vontade violenta de largar tudo e fugir para onde ninguém vai nos encontrar? Eu ainda sou o seu lar? Eu só queria saber, porque sempre que eu me pergunto, volto para onde tudo começou.
Diga-me, garoto, alguém além de mim te prometeu amor para toda a vida? Alguém já foi capaz de curar as suas feridas? Diga-me se ainda pensa em chegar de repente no meu apartamento? Diz se ainda é meu todo o teu pensamento. Existe algum sentido em toda a nossa história? É certa ou errada essa nossa trajetória? Eu já revi todas as nossas noites em claro pensando em uma solução e não encontrei.
Diga-me, garoto, por que é que a gente sempre volta para o começo e não dá um passo adiante? Diga-me porque de repente fica esquisito e nada volta a ser como antes? Diga-me porque tua respiração ainda me causa calafrios? Diga-me se toda vida é tão cheia de desafios. Eu quero entender. Abra-se mais, quero enxergar você. A noite é escura e os sonhos são tão raros...
Diga-me, garoto, seu cabelo ainda cresce como uma planta sem direção? Eu ainda sou seu sentido, sua luz, sua razão? É que eu me sinto tão perdida e tão sozinha. Eu sei que a solidão é de origem minha, mas tem momentos que eu preciso ouvir a sua voz. Preciso sentir seus lábios juntos aos meus. Preciso ver o paraíso que você prometeu, mas não vejo nada. Não vejo nada meu nem seu.
O que me resta é o toque suave na sua face. O que me resta é seu perfume inundando minha madrugada. Resta-me tudo e não sobrou nada. Eu queria o mundo e fiquei com um jardim sem flores. Ele me levou a esperança como quem leva o recém- nascido de uma mãe apaixonada. Eu sonho com você quando durmo e mesmo acordada.

Luciana Braga
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