9.13.2018

GIRASSOL






Antes, o único consolo da minha existência era esperar pelo que ainda havia de vir. Fantasiava aparência. Não media consequência. Imaginava até a voz. No sonho, não havia distância entre nós. Ele percorreria rios e desertos. Ele sempre estaria por perto, com seu cheiro e seus abraços. Eram tão fortes os nossos laços que parecia que nunca iriam se romper. Ele assumia tantas personalidades. Ele mudava as idades, mas nunca parecia velho demais. Nos sonhos, a gente sempre é capaz. E ele era melhor que qualquer um que se aproximasse de mim. Parecia que ele havia decorado meu roteiro com início, meio e fim. Gostava de músicas calmas, mas também sabia dançar. Não havia limites que ele não fosse capaz de ultrapassar.
Mas, com o tempo a gente vai aprendendo com as derrotas do dia a dia. A gente vai esquecendo a fantasia. Passamos a pensar que ninguém é digno o bastante. Contentamos com pouco, bem pouco. Nada parecido com as ilusões de antes. Com o tempo aprendemos a esquecer. Perdoamos cada pequena falha e as maiores vão surgindo rapidamente. Investigamos o interior de nossas mentes e sentimos tanto medo de ficar sozinhas que nos resignamos a aceitar. Contudo, felicidade não é amar o outro apesar da dor que ele nos faz sentir. Amar não deve ser ultrapassar todos os sonhos com o objetivo mínimo de ter companhia. Amar não deve ser uma agonia. Amar é buscar mais.
Hoje entendo que o meu ideal não se concretizará jamais em um corpo falho humano. Entendo que é digno recomeçar. Entendo que passei tempo demais buscando amar do jeito que ele pedia, mas isso não diminuía meus medos e minha solidão. Hoje aprendo que seguramos as mãos e isso de forma alguma é um contrato. Fazemos tanta promessa vazia no momento do ato e ofegantes acreditamos que o outro irá cumprir. Mas, estamos pedindo demais da natureza humana. Ela foi feita a imagem do erro alheio propagado ao longo das gerações.
Eu sei que gostava daquela ideia colorida de unir corações e sentir que dois corpos se transformavam em um. Mas não é suficiente. Amar é complexo. Não é coisa de bicho que sabe ser feliz é coisa de gente que está acostumada a cutucar a ferida até sentir o sangue entre as mãos.
Ahhh, quantas vezes senti a morte e a vi tão nítida quanto a silhueta de quem eu amo ao lado de outro que não sou eu... Quantas vezes, quantas palavras, quanto momento bonito se perdeu.
O que eu fiz de errado nem conta mais porque depois que esquecemos de regar a rosa ela não vive mais. Por mais que nos arrependamos e sejamos capazes de buscar correndo mangueiras e mangueiras de água. Amor não se socorre. Deixe a frágil rosa morrer e observe o solitário girassol.
Às vezes, olhamos demais para o lado errado e perdemos a direção. Às vezes, é mais fácil dançar de meias em cima da cama ao invés de tomar uma atitude simples que seja capaz de mudar o rumo das nossas vidas.
Eu sei, chorar é o caminho mais curto e você já chorou demais. Então porque não pega um lenço ou mergulha numa banheira e deixa tudo afundar ali dentro, menos você.
A vida não é feita só de prazer. Ela é mais pranto e frustração. Então, desista de buscar os cacos e molde outro vaso com suas mãos. É mais fácil do que você um dia imaginou que fosse, mas requer muito esforço.
A vida não é um poço fundo demais. E se assim parece, existe uma corda ao seu lado, mas não é para enrolar em seu pescoço. Segure-a. suba. Use os braços, as mãos e o corpo inteiro. Erga-se e pare de pensar naqueles que não vieram para a sua festa. Você está rodeada de gente, será que nenhuma presta?

                                                                                                           Luciana Braga
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