7.09.2018
Eu vi e não era tão vermelho
quanto eu gostaria que fosse. Ele escorreu pelo meu braço e inundou a pia. Eu
senti como minha vida era vazia. Eu chorei com lágrimas que nem sabia que existia.
Eu senti sentimentos que desconhecia.
A dor? A dor era pequena, era
local, não era fatal, era ocasional; mas virou rotina. A dor mesmo era dentro de mim. Essa dor nunca
escorria. Essa dor nunca saía. Essa dor que eu nem sabia desde quando existia.
Eu vi os olhos delas me achando
uma louca. A vergonha não estava pouca, mas me agarrei ao pedaço de dignidade
que ainda possuía e disse o que há tempos precisava contar. Elas sentiram
saudade do tempo em que eu me machucava acidentalmente. Elas não sabem o que é
que a gente sente. Eu dizia para mim mesma como se eu fosse duas.
Na verdade, eu bem que gostaria.
Uma viveria bem longe e a outra se mataria. Uma correria bem rápido e a outra
se afogaria. Um seria brisa e a outra ventania.
Contudo, só sou uma e sou tanta e
sou sempre. Sou a mesma. Eu nem sei quem sou. Só sei que ninguém entende o que
se passa quando eu me olho no espelho e não me reconheço.
Só sei que se sou uma. Tenho que
me bastar. Tenho que me cuidar. Tenho que ir além. Tenho que viver também. Não
adianta me torturar sem fim. Não adianta afastar todos de perto de mim.
O jeito é aprender a me amar. Eu
tenho que parar.
Um dia gritei isso bem alto e os
pássaros se afastaram de mim. Senti um vento de purificação no rosto. Pensei em
cada criatura no mundo que gosto. São poucas. Eu sei...mas elas valem o meu
existir.
Nesse dia, meu sangue deixou de
cair. Ele passou a circular aqui dentro dos meus olhos enquanto te vejo. Dentro
da minha boca enquanto grito teu nome. Dentro desses dedos que digitam poemas.
Dentro dos meus dilemas. Sangue é tanto e eu pensei que era só passagem.
Luciana Braga