1.07.2018
Não, eu não sou maior que o mundo, sou muito menor,
inquestionavelmente menor. Sou tão pequena que por vezes nem eu
mesma me noto. Eu me comporto. Eu silencio. Eu nem sequer arrepio. Eu
tento. Eu me concentro. Eu tento ajudar. Eu só me frustro. Eu tomo
um susto. A humanidade é tão cruel. Eu provo o fel e não aceito.
Eu mudo meus preceitos. Eu tento te entender. Eu penso em você. Eu
já não sinto prazer. Eu vou.
Não, eu não sou melhor que todos, eu sou muito pior,
inquestionavelmente pior. Sou tão complexa. Sou indigesta. Eu grito
e reclamo. Eu sequer me amo. Eu me congelo. Eu me desespero. Eu choro
sem razão. Eu odeio multidão. Eu sou só solidão. Sou carro na
contramão. Sou tudo e nada. Sou um rosto sério cheio de risada. Eu
sou o puro medo. Sou cheia de segredo e se contasse, teria que me
esconder do mundo inteiro. Eu sou um pesadelo. Eu sou.
Não, eu não mais que uma lembrança, sou ainda tão criança. Não
sei porque deixei cortarem minhas tranças. Agora tenho que cuidar de
mim sozinha. Eu não sou minha. Eu não sou de ninguém. O mundo é
um puro desdém e eu não sei como faço para sumir. Eu tento fugir.
Eu me desespero. Eu me descabelo. Eu grito e o eco volta. Eu tranco a
porta e choro dentro do banheiro. Eu me sinto só o tempo inteiro,
mas é pior quando me sinto assim olhando em teus olhos. Eu estou.
Não, eu não estou feliz com a vida. É tanta ferida aberta. Sinto o
sangue escorrer. Eu pedi pra fugir com você e você
Luciana Braga