5.19.2015

AS CORES LIBERTAS




Calçada com minhas botas de combate, eu vou de branco pela avenida. Quem disse que branco simboliza a paz, quem disse que branco simboliza a vida?
Posso me vestir de branco e me rebelar. Posso me vestir de branco para matar. Posso vestida de branco enlouquecer. Quem disse que o branco é melhor que você?

Coberta por um manto verde, posso perecer. Coberta de verde, posso desistir. Quem disse que o verde irá persistir? Quem jurou que o verde simboliza esperança; nunca viu os olhos de uma criança gritando de fome ou com falta de amor.
Posso me vestir de verde e não acreditar. Posso me vestir de verde e fracassar. Posso vestida de verde adoecer. Quem disse que o verde é melhor que você?

Sentindo a escuridão do preto no corpo inteiro, posso levantar uma bandeira de paz. Quem disse que o preto era incapaz de representar a resistência do amor? O preto é a força, é a luta, é o calor. Quem disse que o preto simboliza a morte, nunca teve a sorte de ver através do brilho dos olhos de quem ama.O preto não é fracasso nem lama. Preto pode ser a noite que reacende a chama.
Posso me vestir de preto e ser feliz. Posso me vestir de preto e orar a Deus. Posso vestida de preto ser o mais bonito. Vestida de preto nunca te esquecer. Quem disse que o preto é pior do que você?

Encharcada com o azul de todos os mares, eu posso finalmente me afogar. Quem disse que o azul é tranquilidade, nunca amou de verdade, nunca provou o turbilhão de emoções. Quem disse que o azul é mansidão, nunca teve seu coração arrancado no momento de maior entrega. Azul não precisa simbolizar a paz, ele também pode simbolizar a guerra!
Posso me vestir de azul e gritar bem alto. Posso me vestir de azul e enlouquecer. Quem disse que o azul tem que obedecer, desconhece os ímpetos de quem ama pra valer. Quem disse que o azul é mais calmo que você?

Com meu longo vermelho, eu posso enrubecer. Quem disse que o vermelho me faria seduzir você? Quem disse que o vermelho é a cor mais quente, a cor do amor ou da paixão. Quem atribuiu papeis tão fixos às cores, desconhecia sentimentos. Desconhecia o livre arbítrio, o leve passar do tempo. Quem acredita no poder das cores é fadado a fracassar. Não há cor que me faça perder ou ganhar. Não há uma cor que me deixa mais feia ou mais bonita. Não há cor morta ou infinita. Há uma infinidade de cores e é isso que importa. Não é uma cor que bate à noite a sua porta. É uma pessoa de carne e osso e ela bem pode estar completamente nua, sem cores, sem sonhos, sem regras, completamente sua.


Luciana Braga
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