1.10.2014

TÃO FORTE E TÃO PERTO





Eu sempre busquei encontrar o sentido das coisas. No entanto, percebo que há coisas no mundo sem uma mínima explicação. Percebo que mesmo que machuquem o nosso coração. Inevitavelmente, estamos o tempo inteiro, tentando remendá-lo da melhor maneira possível.
Quisera eu que ele tivesse deixado uma chave. Quisera eu poder ter visto os seus olhos brilhando tão forte e tão perto de mim. Quisera eu que essa história houvesse tido um começo, um meio e um fim. Mas, a nossa história nunca existiu. Ele morreu sem sequer me dizer adeus...
No entanto, não são os seus olhos que me fazem falta, pois não posso sentir saudade do que nunca existiu. Não é seu abraço que eu busco antes de dormir. Nem é você o meu motivo para continuar a sorrir. Quando eu nasci, você se negou a me pegar no colo. E eu me neguei a dar um único adeus. Eu não lamento a ausência da sua presença. Nem culpo a minha mãe, a mim mesma ou a Deus.
Nesse momento, não é você o motivo da minha saudade. Não é você a minha ausência, a minha liberdade. Não é você a minha dor, o meu calor, o meu sorriso. Você não é o meu amor, o meu mar, o meu abismo. Você não é a voz doce que eu ouço ao amanhecer. O pai que eu sonhei um dia, se é que eu sonhei, nunca foi parecido com você.
Entretanto, quando vejo pais fazendo o papel de pais, eu me lembro de você ou da sua ausência. Lembro-me de cada consequência, das lágrimas e de quando eu quis morrer.  Lembro-me que você não se lembrou de mim. Lembro-me que eu não estava junto de você quando chegou o seu fim. E lembro que eu minto dizendo que não o queria sempre tão forte e tão perto de mim.
  

                                                                                                                                         Luciana Braga
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