7.30.2013

NÃO SEI





Desde sempre incompreendido nesse mundo caótico e absurdo. Não aprendi a falar cedo como as outras crianças, mas o doutor disse que cada criança tem seu tempo. As palavras não ganhavam som ao tocar a minha língua, mas eu gritava impossivelmente alto, embora mamãe não fosse capaz de ouvir.
Fraca, incapaz, patética. Ela não conseguia me entender. Então ela chorava trancada em seu quarto. Eu não me importava. Nunca me importei. Todos se esforçam tanto para agradar. Eu sinto prazer em ser insuportável. Não é assim que a mamãe me ver?
Sinto prazer em afrontá-la, em desafiá-la, em não amá-la. Será?
Talvez eu precisasse de um abraço mais forte do que todos são capazes de dar. Talvez eu precisasse aprender a amar. Talvez eu precisasse de um motivo para viver. Talvez...
Agora, isso não importa, porque eu já aprendi a acertar o alvo. Agora isso não importa, pois sonho com o gosto doce do sangue tocando a ponta da minha língua. Agora, eu não sou mais aquela criança esquisita. Eu cresci e sou responsável pelas minhas atitudes, então deixe que eu faça!
Não me convide para jantares para que eu me esforce em bancar o perfeito. Você não tem o direito de exigir o melhor de mim. Você não estava aqui quando eu precisei. Você não pode me dizer o que fazer. Eu quero arriscar, mesmo que destrua tudo.
Sou um abismo de interrogações. Sou a incógnita no olhar. Sou a morte. Sou o mar. Sou aquele que nunca teve amigos. Nunca precisei de ninguém para fingir que gosta de mim. Você já fez isso com maestria. Não me peça para parar com rebeldia nem queira me ensinar sobre o mundo.
Eu conheço o pecado, a luxúria e a vaidade. Eu conheço a mentira e a verdade. Eu sei o que todos querem ouvir, mas não estou disposto a seguir adiante com isso. Eu sei o que devo fazer, mas prefiro pegar a estrada contrária. Eu sei como o ser humano é feito e abomino cada gesto e sensação. Eu só não sei o que é paixão.
No final, eu sorri quando ouvi os gritos. Os corpos estendidos no chão, indefesos, estúpidos como os bonecos imbecis que você me dava quando eu era criança, lembra?
Eu não vou fugir. Eu assumo o que fiz. A morte está em mim. Só não me pergunte o motivo. Só não me pergunte o porquê de eu ser assim, porque eu pensava que sabia, mas juro, agora já nem sei.

                                                                                                              Luciana Braga
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