Ela não compreendia o que estava
fazendo com a sua vida. Ela nunca entendia. Sempre que alguém se apaixonava por
ela, algo acontecia e ela percebia que não podia viver esse amor e nunca era
capaz de corresponder a tal sentimento. Ela nunca percebia o amor.
Quando era ela quem se
apaixonava, o problema era maior e com desastrosas consequências. Dizia sempre
que não nascera para amar e ser amada ao mesmo tempo. Isso só ocorre em filmes
ou em livros. A vida real é bem menos emocionante e frustrante.
Contudo, em um dia comum, ela o
vira debaixo de uma árvore lendo um livro grosso. Meu Deus, era um livro para
se viver com ele! Ela pensou em se aproximar, mas não iria puxar assunto, pois
não queria ser inconveniente e causar má impressão. Resolveu sentar embaixo de
uma árvore próxima, nem tão longe, nem tão perto. Queria vê-lo.
Desde a infância, ela era boa
observadora, iria usar esse dom. Fones no ouvido, boa música e contemplação. Ela
ficou horas ouvindo uma única canção e olhando para ele.
Até que uma moça se aproximou e
caminhou lentamente até colocar as mãos nos olhos dele e perguntou: “Advinha
quem é?”.
Não precisava adivinhar, ele já
sabia. A sequência foi bastante previsível: Ele a virou até que ela caísse em
seu colo, ambos sorriram, beijaram-se apaixonadamente até que a observadora
decidisse mudar a canção do seu mp4 e se afastar daquela cena que tanto a
deprimia.
O curioso é que ela não
percebeu...
Ela saiu daquele lugar caminhando
rápido como se tivesse pressa de chegar. Caminhou até avistar um lago e já nem
prestava atenção à música que ouvia. Ela não escutava, ela não via, ela não
sentia. Ela estava tão decepcionada com aquela situação que queria se esconder
para que ninguém a visse. Era como se a vergonha que ela sentia no momento,
pudesse ser percebida em seu olhar, em seu falar e em seu caminhar. Ela
resolveu parar e sentar a beira de um lago e chorou como se tivesse motivo para
sofrer até a morte. Chorou como se tivesse perdido todos os parentes, chorou
como se não houvesse mais saída.
Até que alguém se aproximou dela,
não muito longe que não pudesse ser ouvido; mas também não muito perto que
parecesse invasivo. Alguém se aproximou e disse: “A gente sofre muito por amor,
não é verdade? Mas, um dia a gente aprende! Eu juro que a gente aprende!”.
Ela olhou para trás e avistou um
lindo rapaz de cabelos negros e olhos azuis.
O curioso é que ela não havia
percebido que ele a observava no mesmo momento em que ela observava o outro. O
curioso é que ela não percebeu que ele já a observava desde o momento em que
ela havia saído de casa. Ele era o seu vizinho, mas ela nunca o percebeu. Agora
ele se fez notar e uma história se iniciou.
Luciana Braga