A hipocrisia de algumas pessoas
causa-me uma ânsia sem explicação. É tanta gente falsa fingindo ser bonzinho,
quando na verdade não demonstra uma única atitude de carinho que não tenha um interesse
oculto por trás.
Queria acreditar no amor
verdadeiro, queria ver alguém me amando o tempo inteiro sem precisar mentir ou
me trair. Queria chorar ao me despedir. Queria me emocionar com uma canção.
Mas, é tanta ingratidão, tanto lobo em pele de cordeiro, que me pergunto o
tempo inteiro: “onde iremos parar?”
As crianças estão engravidando.
Os adolescentes estão se matando e os adultos desconhecem o significado da
maturidade. Vejo tanta mediocridade que me dá vontade de fugir daqui.
Então eu busco o mar e corro
sem sentido. Corro o mais rápido que posso. Corro sem saber o que vou
encontrar. Mas, como todos que correm desesperadamente, eu tropeço e sinto uma
dor imensa ao cair.
Isso também ocorre quando eu
luto muito, quando eu faço de tudo para ser notada. Isso ocorre quando eu penso
que sou amada e busco agir da melhor maneira possível. Eu corro para agradar a
pessoa amada, mas ela não se emociona, antes, dá risada, e eu caio no chão sem
proteção.
Vejo tanta gente sem coração.
Vejo doentes por toda a parte, mas não é a tuberculose, ou câncer ou hiv. A
doença que eu já cansei de tanto ver é o egoísmo, a maldade e a ingratidão.
Vejo também tanta gente
deficiente, que não enxerga, não ouve, não fala e não dá um passo sequer. Mas,
não é daquela “deficiência” que a nossa sociedade tanto fala que eu me refiro.
Penso sempre em algo muito mais grave.
Penso no cego que não enxerga o
próximo que clama por ajuda. Penso no surdo que não ouve as súplicas de uma
criança faminta. Penso naqueles que não sabem usar a voz para proclamar a
palavra de Deus ou para manifestar uma opinião inteligente sobre a nossa
realidade social. E, acima de tudo, penso naqueles que não sabem mais dar um
passo sequer, pois as suas pernas desaprenderam a caminhar. O comodismo destruiu
as suas forças e eles já não sabem como fazer para mudar.
Sinto pena dessa sociedade
destruída. Sinto pena dessas pessoas que perdem o gosto pela vida. Mas, sinto
um nojo imenso por aqueles que se acham superiores. Tenho gana de matar os
malfeitores, mas sou pequena, frágil e doce demais para destruir.
Então eu uso o poder das
palavras e a força do meu olhar, ensino para alguns que é impossível viver sem
amar, mesmo que o amor não esteja mais valendo nada. Uso o alcance da minha voz
e a decepção que há em mim. Busco multidões, mas ninguém me ouve, então eu
grito e o meu grito rompe os céus, mas ninguém presta atenção.
Cansada, eu tramo uma morte
violenta, cometo o mesmo erro dessa juventude sedenta da graça de Deus e de
muito amor. O problema é que eu sou idealista demais, duvido de quanta maldade
o homem é capaz e me decepciono sempre e sem parar.
Isso porque no fundo do meu
coração ainda há uma luz que brilha quase sem força, mas ainda me ilumina. É uma
luz, uma esperança, uma inspiração divina. É um fôlego, um afago, um desejo de
amar. É uma luz fraquinha, eu sei, mas enquanto ela houver, ainda posso voltar
a sonhar.
Luciana Braga