3.10.2013

SALVA-ME





Eu fiquei largada naquela cama por horas tentando interpretar aquela conversa. Fiquei sozinha segurando a flor que você me deu. Fiquei chorando em silêncio. Chorando em súplica, não em desespero. Eu rememorei todos os nossos momentos juntos e pensei em morrer.
A morte, às vezes, parece a única saída sensata, mas não é...
Eu chorei porque as palavras não conseguiam me entender. Chorei porque queria muito ter você. Chorei porque sabia que não conseguiria te esquecer. Chorei e as lágrimas lavaram a minha alma, o mais profundo do meu ser.
Tentei reconstruir a minha estátua frágil, mas não consegui. Você levou alguns pedaços fundamentais de mim. Tentei me erguer levemente e tropecei nas minhas lembranças. Eu continuo tragicamente presa a você.
O tempo foi passando e esse amor se multiplicando dentro de mim. Pensei que a minha vida iria chegar ao fim, até que eu consegui levantar da cama e ver o mar.
Passei horas contemplando o vai e vem das ondas, passei horas pensando em mergulhar. Imaginei que você estaria no meio do oceano e iria me segurar pelas mãos. Você jamais me deixaria morrer...
Criei forças dentro do âmago do meu desespero e me levantei daquela areia fininha como as minhas esperanças. Eu sei que poderia ter enxergado a imensidão, o infinito, o bonito do céu, a amplitude do universo, a vida, o sublime, o extraordinário. Mas, eu só conseguia pensar nesse amor que me corroía a carne, nessa aflição que devorava o meu ser pouco a pouco...
Eu arrisquei e caminhei devagarinho. Senti os meus pés tremerem ao toque daquela água fria. O mar me chamava para um abraço derradeiro. Eu sorria e caminhava lentamente. As suas imagens ainda povoavam a minha mente e a água molhava agora a minha cintura. O meu vestido branco estava ficando transparente. Contudo, eu não conseguia esvaziar a minha mente. Eu só pensava em te encontrar no meio do oceano azul e infinito. A água agora molhava o meu pescoço, mas eu não sentia que ia sufocar... Antes eu sentia como se estivesse me segurando com sofreguidão. Senti que o nosso abraço era o maior dos laços do mundo inteiro e quando a onda veio e molhou o meu derradeiro pensamento... Eu percebi que estava afundando e não sabia nadar... Percebi movimentos confusos ao meu redor. Senti braços que me cingiam como dando um nó. Fechei os olhos e deixei que me levassem...
Quando eu dei por mim, senti o vento na minha face, um toque suave em meus lábios. Abri os olhos apressadamente e vi olhos de súplica e desespero. Eu percebi que ele estava ali me olhando o tempo inteiro e que nunca teria me deixado verdadeiramente partir. Ele me salvou do precipício que me conduziria à morte. Ele me tirou das profundezas do oceano. Ele nunca me deixou largada a própria sorte. Ele me salvou e me salva a cada dia, ele foi a minha angústia, hoje é a minha alegria. Ele foi o meu dano e provocou os meus sofrimentos. Hoje é o homem que eu amo e o dono dos meus pensamentos.

Luciana Braga
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