Eu fiquei largada naquela cama
por horas tentando interpretar aquela conversa. Fiquei sozinha segurando a flor
que você me deu. Fiquei chorando em silêncio. Chorando em súplica, não em
desespero. Eu rememorei todos os nossos momentos juntos e pensei em morrer.
A morte, às vezes, parece a única
saída sensata, mas não é...
Eu chorei porque as palavras não
conseguiam me entender. Chorei porque queria muito ter você. Chorei porque
sabia que não conseguiria te esquecer. Chorei e as lágrimas lavaram a minha
alma, o mais profundo do meu ser.
Tentei reconstruir a minha
estátua frágil, mas não consegui. Você levou alguns pedaços fundamentais de
mim. Tentei me erguer levemente e tropecei nas minhas lembranças. Eu continuo
tragicamente presa a você.
O tempo foi passando e esse amor
se multiplicando dentro de mim. Pensei que a minha vida iria chegar ao fim, até
que eu consegui levantar da cama e ver o mar.
Passei horas contemplando o vai e
vem das ondas, passei horas pensando em mergulhar. Imaginei que você estaria no
meio do oceano e iria me segurar pelas mãos. Você jamais me deixaria morrer...
Criei forças dentro do âmago do
meu desespero e me levantei daquela areia fininha como as minhas esperanças. Eu
sei que poderia ter enxergado a imensidão, o infinito, o bonito do céu, a
amplitude do universo, a vida, o sublime, o extraordinário. Mas, eu só
conseguia pensar nesse amor que me corroía a carne, nessa aflição que devorava
o meu ser pouco a pouco...
Eu arrisquei e caminhei
devagarinho. Senti os meus pés tremerem ao toque daquela água fria. O mar me
chamava para um abraço derradeiro. Eu sorria e caminhava lentamente. As suas
imagens ainda povoavam a minha mente e a água molhava agora a minha cintura. O
meu vestido branco estava ficando transparente. Contudo, eu não conseguia
esvaziar a minha mente. Eu só pensava em te encontrar no meio do oceano azul e
infinito. A água agora molhava o meu pescoço, mas eu não sentia que ia
sufocar... Antes eu sentia como se estivesse me segurando com sofreguidão.
Senti que o nosso abraço era o maior dos laços do mundo inteiro e quando a onda
veio e molhou o meu derradeiro pensamento... Eu percebi que estava afundando e
não sabia nadar... Percebi movimentos confusos ao meu redor. Senti braços que
me cingiam como dando um nó. Fechei os olhos e deixei que me levassem...
Quando eu dei por mim, senti o
vento na minha face, um toque suave em meus lábios. Abri os olhos
apressadamente e vi olhos de súplica e desespero. Eu percebi que ele estava ali
me olhando o tempo inteiro e que nunca teria me deixado verdadeiramente partir.
Ele me salvou do precipício que me conduziria à morte. Ele me tirou das
profundezas do oceano. Ele nunca me deixou largada a própria sorte. Ele me salvou
e me salva a cada dia, ele foi a minha angústia, hoje é a minha alegria. Ele
foi o meu dano e provocou os meus sofrimentos. Hoje é o homem que eu amo e o
dono dos meus pensamentos.
Luciana Braga