12.21.2012

O PERFUME





A humanidade idolatra a superficialidade dos corpos. Idolatra um cabelo vistoso, uma pele sedosa, um olhar expressivo, um sorriso encantador. Os homens amam intensamente, com toda a volúpia que os seus corpos são capazes de expressar, o corpo nu de uma “linda” mulher.
E não há nada de novo nesse amor. Não há nenhuma novidade nesse desejo, nessa luxúria, nesse calor. Não há criatividade nesse sentimento que todos entendem através dessa simples e frágil palavra: amor.
Mas, houve um homem. Sei que ele deve ter existido sim. Não importa se na Literatura, em um filme ou dentro de mim.
Houve um homem e ele era extraordinário. Ele desconhecia as crenças humanas, os erros desumanos, os amores e desejos carnais. Aparentemente ele era tão singelo, tolo, submisso... Ele não era gente, não era bicho, ele não tinha odor... Ele não era nada... Ele desconhecia o perdão, a amizade, o carinho, a família e o amor.
Mas, esse homem nutria ideias fascinantes, tinha sonhos mirabolantes, atitudes admiráveis, embora, condenáveis. Ele possuía um dom especial, foi uma pessoa sem igual e não morreu, mas foi devorado pelo amor egoísta da humanidade que sempre tenta tomar posse da coisa amada.
Eu sei que, às vezes, alguns por coragem ou por falta de criatividade me chamam de louca por eu admirar algo tão fora do comum. É que o diferente sempre me atrai. O oposto é o que mais me satisfaz. A calma é que confunde a minha mente. O riso é que me faz chorar de repente. O desejo me faz sentir todo o pudor que uma donzela tem e o amor desperta o ódio que há em mim.
Tudo isso porque eu sou paradoxalmente incompreensível. E reconheço que não é saudável tentar me compreender. Assim como não aconselho amar demais, sorrir de menos e nem aconselho que tenham uma existência inútil, cujo objetivo se limite a estar entrelaçado ao outro... Pelo menos aquele homem não era submisso ao outro, não amava o outro... Idolatrava simplesmente a complexidade da composição de um esplêndido perfume.
 Luciana Braga
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